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  • Foto do escritorBelemitas

Precisamos falar sobre o Brasil



De hoje em diante não vai mais importar em quem você votou. What is done, is done e seu voto não deverá ser usado como álibi para criticar, nem como salvo conduto para oprimir. Deixemos de lado os posicionamentos políticos tão arraigados que nos acompanharam durante os últimos meses e passemos a régua na situação do país.


Como povo, saímos desse processo eleitoral completamente enfraquecidos. Nossos laços fraternais se desgastaram, quando não se romperam. Tornamo-nos extremamente melindrosos diante de qualquer tipo de debate e ficamos extenuados com a quantidade de informações que tivemos de processar. O brasileiro mergulhou fundo, mas fundo mesmo, e só agora começamos a nos dar conta de que o ar pode acabar.


Nesta segunda-feira, recolhemos os santinhos das calçadas e os cacos do chão. As eleições acabaram, mas a vida continuou. E o país também continuou. Igual, mas diferente. No lugar da alegria, um tímido silêncio; no lugar do otimismo, um olhar de soslaio. Cada um de nós perdeu um pouco de brasileiragem nessas eleições: a ginga, a descontração e o companheirismo.


Em vez de debater ideias, nós as combatemos; em vez de agregar amigos, construímos barreiras. Ficamos mais isolados do que nunca em nossas bolhas ideológicas e afastamos de nós toda opinião diferente. Em prol da politização, tornamo-nos seres apolíticos; menos cidadãos; menos comunitários. Fomos enganados por uma falsa ideia de bem comum, quando defendíamos, a ferro e fogo, nossas próprias (e mesquinhas) posições pessoais.


Nesses tempos, desaprendemos a ouvir, ao passo que vidramos nossos olhos nas telas de celular.


Também deixamos de valorizar a verdade, à medida que fake news satisfaziam nosso ego e sustentavam nossas opiniões.


Suspendemos contatos e bloqueamos amizades; até dos nossos familiares passamos a desconfiar.


Criamos inimigos... Muitos.... Conhecidos ou desconhecidos. Inimizamos com aqueles que faziam campanha na televisão, mas também com os milhares que iam para as ruas manifestar. De repente, a pergunta em quem você vai votar? tornou-se a senha para a vida ou para a morte.


Ao longo dessa jornada, defendemos o indefensável e atacamos o inatacável.


Surgiram dois, três, quatro, cinco Brasis diferentes, com fronteiras que nós mesmos delimitamos para não ultrapassar. Criamos o Brasil dos nordestinos, o Brasil dos evangélicos, o Brasil dos LGBTs, o Brasil da esquerda, o Brasil da direita, o Brasil dos brancos e nulos, o Brasil dos indecisos... E, então, foi desaparecendo o Brasil dos brasileiros.


Terminamos essa missão democrática dentro de um poço, bem no fundo e, infelizmente, sem saber se já chegamos ao seu lugar mais fundo.


Embora a superfície esteja bastante longe, te convido para que subamos aos pouquinhos, tocando aquilo que podemos alcançar. E, assim, exercitemos nossa fé a fim de que possamos sair de um desses Brasis criados para reconstruir o verdadeiro Brasil.


Existem inúmeras posturas que podemos (ou melhor, devemos) tomar para que, a luz da Bíblia, possamos trabalhar por um futuro melhor. Aqui vão algumas dicas:


1. Comece pedindo desculpas a todos que você ofendeu por causa das eleições e aceite as desculpas daqueles que porventura te ofenderam. O perdão é a essência do Evangelho e o princípio de nossa salvação. Ser imitador de Cristo significa perdoar, por mais difícil que isso possa parecer à nossa natureza humana. Tanto é assim que Jesus nos ensina: portanto, se você estiver oferecendo no altar a sua oferta a Deus e lembrar que o seu irmão tem alguma queixa contra você, deixe a sua oferta ali, na frente do altar, e vá logo fazer as pazes com o seu irmão. Depois volte e ofereça a sua oferta a Deus (Mt 5:24). Em outra oportunidade, o Mestre falou sobre a importância de perdoarmos: e, quando estiverem orando, perdoem os que os ofenderam, para que o Pai de vocês, que está no céu, perdoe as ofensas de vocês.(Mc 11:25). Já que nos últimos meses ficamos obcecados por números, experimente: 70x7 (Mt 18:21-22).


2. Repense seu uso das redes sociais. Cheque as informações antes de repassá-las e condene qualquer forma de mentira. Sem dúvidas, as fake news foram uma das principais personagens dessas eleições. Além de disseminar boatos, ajudaram a promover o discurso de ódio e estabelecer o extremismo. O que é pior: quantos de nós não fomos responsáveis, ainda que inconscientemente, por repassá-las por meio de nossos whatsapps, instagrams, facebooks, etc.? Se você é daqueles que costumam encaminhar notícias, tenha sempre um compromisso com a verdade. Fiquemos com as palavras de Davi: ensina-me a viver de acordo com a tua verdade, pois tu és o meu Deus e o meu Salvador (Sl 25:5, NTLH). Também, tomemos para nós os conselhos de Paulo: por isso, não mintam mais. Que cada um diga a verdade para o seu irmão na fé, pois todos nós somos membros do corpo de Cristo! (Ef 4:25). Hoje, há parcerias entre diversas redes de comunicação do país destinadas ao combate às fake news. Cita-se, como exemplo, o Projeto Comprova, formado por mais de 24 empresas de mídias brasileiras com o objetivo de checagem de conteúdo – vale visitar o site[1]. De qualquer forma, você mesmo pode desvendá-las; o site Catraca Livre dá um passo a passo de como podemos, rapidamente, verificar se as notícias que recebemos contém conteúdo verdadeiro[2]: 1 – leia a mensagem completa; 2 – confira quando o fato ocorreu; 3 – pesquise no Google; 4 – cheque quem é a fonte; 5 – veja se as fotos são reais; 6 na dúvida, não compartilhe.

3. Abra seus ouvidos. Vozes são mais incríveis do que caracteres. Perdemos a capacidade de ouvir os outros e nos tornamos fechados a opiniões, o que é prejudicial para nossa caminhada como cristãos. Dentre tantas passagens bíblicas, quero destacar uma em especial, na qual fica clara a intenção de Jesus ouvir pessoas. Ele estava passando pelo Tanque de Betesda quando avistou um paralítico esperando pelo movimento das águas para ser curado. Jesus, muito provavelmente já havia traçado sua ação para aquele homem e sabia quais as dificuldades que ele encontrava. Mesmo assim, o Mestre perguntou: Você quer ser curado?. O paralítico então respondeu: Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque quando a água é agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim. Veja que interessante: a capacidade de Jesus em ouvir revelou algo para além da necessidade física do paralítico. Sua resposta, não tenho ninguém que me ajude, revela uma necessidade da alma, solidão e desconforto que repercutiam na sua doença. Ouvir o que as pessoas têm a nos dizer nos leva a conhece-las e estabelecer conexões únicas, que de outro modo jamais seriam possíveis. Se, ao longo desse turbilhão eleitoral, você desistiu de ouvir pessoas e outras opiniões, recupere isso e abra sua mente para coisas novas.


4. Engula os “eu avisei”s e não esfregue na cara de ninguém o sucesso/insucesso do país. Muitas vezes falhamos em entender que nos momentos em que o país cresce, todos crescemos e, nos momentos em que perde, todos perdemos. O discurso do ele não me representa, ou do ele tem meus ideais é uma desculpa para assumirmos posições pré-concebidas. Na realidade, se usufruímos de direitos e cumprimos com deveres, somos parte desse todo chamado Brasil, independente de quem esteja a sua frente. Da mesma forma como a corrupção política afeta o dia a dia daqueles que passam horas para ser atendidos em um hospital público, a boa cidadania constrói pontes para o desenvolvimento sustentável. Somos todos parte disso; se você me avisou e eu não ouvi, desculpe-me; se eu te avisei e você não ouviu, eu desculpo. Perfeita é a lição de Tiago: Irmãos, não se queixem uns dos outros, para não serem julgados por Deus. O Juiz está perto, pronto para vir (Tg 5:9). O que importa é o que faremos hoje para ter um Brasil diferente.


5. Não suma! A alienação política provoca a perpetuação das ações antidemocráticas provocadas pelo extremismo. Se há algo de positivo que colhemos dessas eleições foi uma maior preocupação com a política nacional. Não deixe isso se perder nos próximos anos. Aproveite este engajamento para se tornar um fiscal da democracia e da eficiência dos novos governantes. Afinal, bem ou mal, eles nos representam. O próprio Jesus tinha consciência de que vivia sob a liderança política do Imperador Romano e estava inteirado das obrigações do povo para com o Estado (v. Mt 22:15-22).


6. No mais, ore! Muitos dos desafios que estão a nossa frente vão além da nossa capacidade de agir. Decisões importantes deverão ser tomadas e novos caminhos nos esperam. Sobre tudo isso, oremos. Clamemos por um tempo de bênçãos sobre nossa terra, para que a vontade de Deus seja revelada àqueles que decidirão por nós. Paulo já ensinara: Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade (1Tm 2:1,2) . A prevalência da vontade humana nas decisões políticas do Brasil nos trouxe até o poço em que estamos. Está na hora de buscarmos (e praticarmos) a vontade de Deus. Se Ele nos deu um país tão rico em recursos naturais, localizado em ponto estratégico para não sofrer desastres naturais, orientado em suas relações internacionais pela pacificidade, certamente Ele nos direcionará para um futuro melhor.


Se não quiser fazer isso por você, faça pelos seus filhos, sobrinhos ou netos. Que Deus nos abençoe!


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[1] https://projetocomprova.com.br/

[2] https://catracalivre.com.br/cidadania/como-saber-se-noticia-e-real-ou-um-boato/





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