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  • Foto do escritorBelemitas

Bloqueio virtual: onde a vida real não pode imitar a internet.



As redes sociais nos conferiram uma faculdade totalmente nova e nunca antes experimentada na história da humanidade: a possibilidade de bloquear pessoas indesejadas.


Na realidade, trata-se de solução simplista para um problema social muito mais complexo, qual seja, lidar com pessoas que não gostamos ou que nos incomodam. Em condições normais de temperatura e pressão (um encontro não virtual), seríamos obrigados a aturar conversas maçantes ou encarar o risco de estarmos próximos de um desconhecido. Já nos encontros virtuais, bloquear ou excluir o outro nos livra efetivamente desses inconvenientes.


Tudo muito fácil, mas também problemático. Contribui-se, assim, à ditadura da minha (e sua) vontade em detrimento das demais, elevando o nível do egoísmo ao ponto de se escolher com quais pessoas queremos ou não nos relacionar.


Mas isso é um direito meu, você poderia até argumentar.


Vamos além desse direito; analisemos se teríamos um dever social contraposto de nos relacionarmos mesmo com quem não está na nossa lista de likes.


Ao observarmos o exemplo de Jesus, percebemos que Ele nunca negou sua palavra, ação ou atenção.


Houve casos em que a presença de outras pessoas apareceu como algo inesperado no curso normal dos eventos, mas mesmo assim Ele não se furtou de atendê-las – pensemos na mulher com fluxo de sangue; no cego de Jericó; ou nos dez leprosos que o abordaram durante uma viagem.


Nessas situações, é claro que havia um notável compadecimento, por serem pessoas visivelmente necessitadas daquilo que Jesus era por natureza: amor. Contudo, a atitude de Jesus não foi diferente com pessoas inegavelmente incômodas. Cito, como exemplo, os fariseus, escribas e outros mestres da Lei. Como lidar com figurões que estão ao nosso redor apenas para mostrar superioridade, tentar nos humilhar ou rebater tudo aquilo que falarmos ou fizermos?


Pois bem, em todos os casos Jesus falou, argumentou e transmitiu a Verdade sem fugir do encontro inoportuno. Fosse por meio de grandes discursos (v. João 6), parábolas elucidativas (v. Lucas 10:25-37 – parábola do bom samaritano) ou singelas frases (v. João 8:7 – passagem da mulher adúltera), Ele revelou quem era e deixou ensinamentos importantíssimos para toda a humanidade. Basta lembrarmos que a frase mais conhecida do Novo Testamento foi dita justamente a um mestre da lei (João 3:16[1]).


Não podemos deixar de nos perguntar se, em nossos dias, aceitaríamos tomar um café com Nicodemos, ou se o teríamos como seguidor em nossas redes sociais.


Diante de tudo isso, parece-me que a perspectiva a nos guiar não esteja propriamente no bem/mal que determinada interação social possa nos gerar, mas na possibilidade efetiva de espelhar Jesus e contribuir para o Reino de Deus através dela.


Trazendo essa ideia às nossas redes sociais, pensemos duas vezes antes de bloquear ou excluir pessoas que possam ser influenciadas positivamente pelo nosso modo de vida. Mais importante, porém, são os efeitos dessa conclusão em nossos relacionamentos não virtuais: não devemos negligenciar ou ignorar ninguém, pois qualquer que esteja a nossa frente se torna uma oportunidade para virtudes espirituais notáveis fluírem através de nós.


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[1] Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.



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