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Diversidade na Perspectiva Divina



Há algo de extraordinário na diferença. Desde a criação, Deus fez questão de esbanjar diversidade em cada um de Seus atos. Ele separou a luz da escuridão e deu-lhes utilidades diferentes. Também delimitou terra, céus e oceanos, dotando-os de características físicas específicas que, incrivelmente, complementam-se. Criou todo tipo de vegetais (Gn 1:12, NTLH) e todas as espécies de seres vivos (Gn 1:20, NTLH). Por fim, fez o homem e, então, a mulher. Cada ser criado por Deus era diferente um do outro, porém, em perfeita harmonia, atestavam um Deus criativo por excelência.


Com os seres humanos, Deus repartiu sua imagem e semelhança e, dentre toda a complexidade racional, sentimental e espiritual que isso envolve, fez-nos seres igualmente criativos! Por isso, somos também capazes de fazer coisas maravilhosas a partir da diferença – diferentes notas musicais geram uma linda canção; diferentes combinações de cores formam um belo quadro; diferentes interações pessoais germinam uma sociedade. Quando utilizamos as nossas diferenças como fonte de criatividade, cumprimos o propósito deixado por Deus em Gênesis 1:27-29[i]. E, de fato, quantos foram os avanços que a civilização já alcançou justamente por aliar às diferenças individuais a criatividade coletiva – há algo essencialmente divino nessa combinação!


No entanto, a Queda do ser humano e a assentada da natureza pecaminosa em nosso coração trouxe um aspecto pernicioso à diversidade. Como tudo que toca, o pecado quer destruir essa qualidade tão nobre e especial que Deus deu à Criação. Nós, seres humanos, nascidos em pecado e influenciados diariamente por nossa natureza humana, estamos sujeitos a sentimentos, atitudes e comportamentos[ii] que tornam a diferença um verdadeiro mal a ser combatido.


No mundo em que a intolerância causa guerras e o preconceito suscita a ira, somos obrigados a compor nichos de igualdade a fim de vivermos em paz. Nas grandes metrópoles, por exemplo, é comum haver bairros identificados por nacionalidades específicas: Chinatown, em New York; Bexiga, em São Paulo... Ao mesmo tempo, diversos países vivem uma onda (ou seria um tsunami?) de xenofobia devido a imigrantes refugiados que batem às suas portas. E, se outrora essa realidade estava distante do Brasil, hoje somos um importante destino de refúgio para diversas pessoas que fogem de guerras, recessões econômicas, perseguições políticas ou catástrofes naturais[iii]. Mas, não precisamos recorrer a questões diplomáticas para ver nossa aversão ao diferente; basta-nos puxar nos arquivos do nosso coração as últimas vezes que sentimos inveja para ver que o diferente nem sempre nos agrada. Esse é o lado ruim da diversidade, instalado em nós pelo pecado.


O fato é que todas essas implicações enterram dentro de nós a capacidade positiva de lidar com o diferente, uma vez implantada por Deus no ser humano, lá no Éden. Com a sobreposição de nossas humanidades sobre a vontade divina (preconceitos, discriminações, bullying, etc.), a diversidade passa a ser objeto de comparação para julgamento, muito mais do que objeto de integração para o desenvolvimento. E há um problema enorme nisso, já que fomos orientados expressamente por Jesus a não julgar o próximo. Assim disse nosso Mestre: não julguem os outros para vocês não serem julgados por Deus. Porque Deus julgará vocês do mesmo modo que vocês julgarem os outros e usará com vocês a mesma medida que usarem para medir os outros (Mt 7:1-2).


A questão é que, em se tratando daquilo que é diferente, julgamos tomando por padrão (base) aquilo que nós consideramos como bom. Porém, nós mesmos não somos fieis praticantes do bem. Veja só o relato de Paulo: Eu não entendo o que faço, pois não faço o que gostaria de fazer. Pelo contrário, faço justamente aquilo que odeio. Se faço o que não quero, isso prova que reconheço que a lei diz o que é certo. E isso mostra que, de fato, já não sou eu quem faz isso, mas o pecado que vive e mim é que faz. Pois eu sei que aquilo que é bom não vive em mim, isto é, na minha natureza humana. Porque, mesmo tendo dentro de mim a vontade de fazer o bem, eu não consigo fazê-lo (Rm 7:15-18, NTLH). Só podemos concluir o seguinte: nós julgamos o diferente sem qualquer domínio sobre o padrão de bom que pauta nosso julgamento.


Isso ocorre por termos nos afastado do propósito original de Deus e colhermos, até hoje, os frutos do pecado semeado em nosso coração. No caso da diversidade, esses frutos são amargos e indigestos, tais como foram os regimes totalitaristas da primeira metade do século XX, o segregacionismo racial nos EUA e, mais recentemente, a disseminação do terrorismo. Não é diferente em nossos relacionamentos pessoais, os quais, infelizmente, afetam até mesmo nossa condição de cristão e nos enchem de preconceitos contra aqueles que não professam a mesma fé ou, simplesmente, são praticantes de atos com os quais não concordamos. Quanto mais julgamos, mais exterminamos a possibilidade de integração a partir da Palavra de Deus.


A esperança para lidarmos com a diversidade de forma positiva me parece estar justamente no único ponto de igualdade que há em toda a humanidade, qual seja, a disponibilidade da graça. Todos somos alcançados pelo amor de Deus e pelo sacrifício de Jesus (de fato, ou em potencial[iv]porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito. E todos nós que o reconhecemos como Salvador passamos a experimentar um processo de transformação diária: Agora já não existe nenhuma condenação para as pessoas que estão unidas em Cristo Jesus. Pois a lei do Espírito de Deus, que nos trouxe vida por estarmos unidos com Cristo Jesus, livrou você da lei do pecado e da morte. Deus fez o que a lei não pôde fazer porque a natureza humana era fraca. Deus condenou o pecado na natureza humana, enviando o seu próprio Filho, que veio na forma da nossa natureza pecaminosa a fim de acabar com o pecado (Romanos 8:1-3, NTLH).


Extraordinariamente, Jesus anulou o poder do pecado sobre nós e abriu-nos a oportunidade de sermos livres para seguir seus passos e, principalmente, refletir a sua natureza. Em outras palavras, Jesus trouxe-nos novamente o Éden, porém não como um espaço físico, mas como um espaço espiritual que se instalou em nosso coração até a sua vinda. Esse Éden (que é sua Presença) nos molda a pensamentos que são divinos, atitudes que são divinas e sentimentos que são divinos. E, assim, passamos a ver a diversidade na perspectiva inicialmente concebida: como um instrumento de integração para o desenvolvimento da humanidade.


É assim que o inimigo se torna um irmão, o estrangeiro se torna alguém que eu posso ajudar; o “nerd” se torna alguém que pode me ajudar e as nossas diferenças são reunidas em uma única força motriz, cujo vetor aponta para o céu. E com isso desenvolve-se o corpo de Cristo, formado por partes diferentes entre si, porém todas imprescindíveis para o propósito da Salvação (Veja 1 Coríntios 12:12-28).


Encerro essa breve reflexão convidando-os para juntos fazermos uma oração sincera em busca da transformação de nossas mentes para aprendermos a lidar com a diferença: Nosso amado Deus e Pai. Somos gratos ao Senhor pela diversidade que há no mundo e pela criatividade com a qual nos presenteou para realizarmos o seu propósito aqui. Embora sejamos humanos e falhos, transforme a nossa mente para vivermos o lado bom da diferença e, assim, sermos agregadores e construtores em um mundo cheio de destruição. Peço-lhe que abra nossos olhos espirituais para que vejamos o diferente como alguém com quem interagir, crescer, aprender e ensinar. E que assim possamos criar uma sociedade unida, embora plural. No nome de Jesus nós fazemos essa oração, para que sua glória se manifeste na terra como no céu! Amém”.


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[i] Assim Deus criou os seres humanos; ele os criou parecidos com Deus. Ele os criou homem e mulher e os abençoou, dizendo: “Tenham muitos e muitos filhos; espalhem-se por toda a terra e a dominem. E tenham poder sobre os peixes do mar, sobre as aves que voam no ar e sobre os animais que se arrastam pelo chão. Para vocês se alimentarem, eu lhes dou todas as plantas que produzem sementes e todas as árvores que dão frutas”

[ii] São as obras da carne, em Gálatas 5:19-21.

[iii] Para mais informações sobre os refugiados no Brasil, acessar: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/paz-e-seguranca-internacionais/153-refugiados-e-o-conare e http://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/dados-sobre-refugio-no-brasil/

[iv] Não significa dizer que todos são salvos, mas que Jesus veio por todos e sua salvação está disponível a todos, contudo, é imprescindível uma atitude pessoal de reconhecimento de sua morte e ressurreição e de arrependimento interior.



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