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A compaixão divina em Jesus



Jesus é a razão pela qual podemos afirmar que a compaixão divina foi completamente manifestada como sentimento e não apenas como um reflexo dos seus atributos. Por isso, Ele é a ligação necessária entre a mera conjectura (teológica/filosófica) sobre compaixão e sua aplicação diária por nós.


A Bíblia nos revela que Jesus decidiu tomar a forma humana de servo e humilhar-se a ponto de aceitar a cruz (v. Filipenses 2:6-8). Ao mesmo tempo que experimentou a totalidade da humanidade, jamais abandonou sua plenitude divina. Na expressão do cotidiano: Ele foi 100% homem e 100% Deus. Então, podemos concluir que Jesus esteve sujeito ao sofrimento ao qual somos expostos diuturnamente e, além disso, manteve ativo seu “instinto divino” de pesar pela dor do próximo, sem se esquecer da necessidade inadiável de dar uma solução final à dor.


Todo esse processo revelou-se especialmente espinhoso devido à natureza peculiar de Jesus Cristo. Diferentemente do que se pode pensar, ser Deus não tornou as coisas mais simples por aqui; pelo contrário, a Bíblia nos leva a crer que Jesus estava muito mais apto a sentir a dor humana do que qualquer outra pessoa do mundo, pois Ele via além do que outros poderiam ver.


Avaliemos a passagem em que Jesus cura um paralítico em Cafarnaum. O Mestre estava pregando em uma casa abarrotada de gente quando lhe trouxeram um sujeito enfermo, que jazia em uma maca. Para todos ali, sua doença física era evidente. Muitos, quiçá, demonstraram compaixão por sua dor. A perspectiva de Jesus, no entanto, levou-o além. Ele também enxergava todo o sofrimento resultante do pecado. Daí que sua reação imediata não foi outra, senão dizer “seus pecados estão perdoados” (Marcos 2:7); não porque deu de ombros quanto à paralisia, mas porque participou das dores daquele homem e soube identificar quais ações prioritárias poderiam, de fato, libertá-lo do sofrimento maior. Primeiro, a dor da alma; depois, a dor do corpo.


Então, imagine só: para cada doença visivelmente captada pelo ser humano, há invisíveis dores espirituais, psicológicas e sentimentais, estas todas captadas por Jesus, internalizadas por Ele e producentes de milagres inigualáveis.


A Bíblia nos relata diversos momentos em que Jesus partilhou do sofrimento de outras pessoas. Mateus contou que dois jovens cegos clamaram a Jesus para que enxergassem. Então, Jesus teve compaixão deles e tocou nos olhos deles. Imediatamente eles recuperaram a visão e o seguiram (Mateus 20:34). Em outro Evangelho, Lucas descreve a visita de Jesus à cidade de Naim. Ali, ocorria o cortejo fúnebre de um jovem, filho único de uma viúva, pela qual o Mestre demonstrou compaixão (Lucas 7:13). Tão logo disse a ela que não chorasse, tocou no caixão e ordenou vida. O garoto levantou e todos louvaram a Deus. Que diremos, então, do incrível relato da ressurreição de Lázaro? Momentos antes da realização do milagre, João observa que Jesus chorou (João 11:35).

Em outras passagens, a Bíblia nos evidencia Jesus partilhando do sofrimento de toda a humanidade; algo que só Ele poderia sentir. Por isso, Ele chorou sobre Jerusalém, internalizando a dor irrompida do pecado (Lucas 19:41-42). Aliás, o escritor de Hebreus explica a função sacerdotal de Jesus destacando suas orações recheadas de sofrimento, lágrimas e obediência – pela qual foi aperfeiçoado a fim de nos dar a salvação (v. Hebreus 5:1-8).


O fato de Jesus ter sofrido nossas dores e as levado consigo até hoje nos intriga. Com efeito, este foi o supremo ato de compaixão. Ele não tinha dores, mas foi chamado “Homem de Dores”, porque tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças [...]. Foi traspassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe a paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados (Isaías 53:3-5).


Particularmente, considero este o relato mais cruento da Bíblia. Isaías não poupou palavras para descrever o destino do Salvador, deixando uma imagem vívida do sofrimento que Ele experimentaria. As doenças e enfermidades que assolam a humanidade estavam sobre Ele – pestes, cânceres, dores crônicas – talvez não fisicamente, mas, certamente, na forma de intenso sofrimento. Assim, também as iniquidades e transgressões feriram-no na alma – o peso do pecado foi inegavelmente real. Nossa dor o cortou, esmagou, castigou e, ao final, matou.


Mas, em tudo isso, Jesus satisfez a Justiça de Deus e pode conceder-nos a tão esperada solução final para toda dor – a paz decorrente do seu castigo não nos pode ser removida, nem mesmo pela morte. O escritor da carta aos Hebreus é bastante enfático quanto à necessidade de Jesus tornar-se semelhante aos homens em todos os aspectos, para que sua expiação fosse eficaz e a purificação pelo seu sangue, completa (v. Hebreus 2:17). Não por acaso, o livro de Hebreus nos mostra que o sofrimento aperfeiçoou Jesus para sua obra salvífica e cumpriu a Justiça de uma vez por todas (v. Hebreus 2:5-18).


O relato de nossa dor assumida por Jesus nos machuca. Não porque participamos instantaneamente em sua dor, senão porque, antes disso, nos arrependemos. Esse arrependimento suscita em nós a consciência do quanto merecíamos ter sofrido, devido àquilo que somos e fazemos. Isso não é compaixão aperfeiçoada, embora com ela se confunda.


A verdade é que, em um primeiro momento, a dor de Jesus nos machuca porque o Espírito Santo abre nossos olhos espirituais para a culpa que temos em sua produção. Depois disso, uma vez admitida nossa condição de pecadores e nascidos de novo em Cristo, passamos a apreender sua compaixão e, consequentemente, partilhar de sua dor, devido à internalização de seu caráter e do fruto de seu Espírito.


Isto, para nós, não é motivo de dor, mas de exultação na esperança da glória futura. É exatamente esta a lição que Pedro nos deixou, em sua primeira carta: mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria (1 Pedro 4:13).



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